sexta-feira, 1 de junho de 2007

As Análises Clínicas

Artigo da Dra. Mafalda Godinho Tomaz, candidata à Direcção da Secção Regional de Coimbra:

AS ANALISES CLÍNICAS EM PORTUGAL

As eleições para o novo bastonário da ordem dos farmacêuticos estão à porta. Este referendo apresenta uma importância acrescida uma vez que se têm verificado grandes alterações na nossa classe profissional e outras se adivinham. Todos ouvimos pela comunicação social as alterações sofridas nas farmácias de oficina tão nossas conhecidas.

No entanto, a ordem dos farmacêuticos não regula apenas os farmacêuticos de oficina. Os farmacêuticos estão distribuídos por diversas áreas mas que por vezes apresentam uma menor visibilidade sobretudo por um contacto menor com o publico em geral. São elas: análises clínicas, farmácia hospitalar, indústria (produção de medicamentos) e distribuição (grossistas de medicamentos).

É sobre as análises clínicas que me vou dedicar hoje. Estas representam, depois da farmácia de oficina, a maior área de actividade farmacêutica.

As análises clínicas são um dos mais importantes meios de complementares de diagnóstico médico e consistem na detecção e/ou medição de determinados parâmetros ou microorganismos em amostras biológicas (sangue, urina, fezes, saliva, etc.). São, portanto, a base da avaliação médica do paciente isoladamente ou em conjunto com outro tipo de exames.

A ligação dos farmacêuticos portugueses às análises clínicas remonta ao século XVIII, tendo sido esta interacção reconhecida pela reforma do ensino farmacêutico em 1902. O desenvolvimento, após 1974, dos cuidados de saúde primários desencadeou uma procura por parte da classe médica de exames complementares de diagnóstico que os ajudasse na avaliação/controlo das patologias dos indivíduos que procuravam o seu médico de família nos centros de saúde. Esta procura desencadeou a abertura de muitos laboratórios de análises clínicas privados, que através de contractos/convenções com o estado e com outros sub-sistemas de saúde, possibilitam, a preços simbólicos, as avaliações analíticas. Este sistema mantém-se até hoje.

A procura da proximidade aos utentes condicionou o alargamento da rede de postos de colheita dos laboratórios permitindo um acesso mais fácil e rápido aos seus serviços.

As análises clínicas têm apresentado um grande desenvolvimento como consequência da evolução da ciência em geral. Este enriquecimento tem sido sustentado através da aposta na formação de profissionais, muitos deles farmacêuticos, e equipamento de elevada diferenciação e especialização. Este processo tem sido acompanhado por regulamentação específica que condiciona, não só, as instalações, o licenciamento e as qualificações académicas dos colaboradores, como a aplicação do Manual das Boas Práticas de Laboratório.

Não obstante as obrigações legais, a maior parte dos laboratórios continuou a procura pela excelência através da certificação e/ou acreditação, tendo sempre como meta altos padrões de qualidade.

No entanto, estamos em momento de avaliação e mudança. O SNS como o conhecemos tem de ser alterado. Não tem capacidade para sobreviver sobretudo por motivos económicos.

Apesar das sucessivas ameaças ao seu normal funcionamento, nomeadamente pelo discurso político de denúncia das Convenções com o Estado, e ainda de normas de funcionamento bem mais rígidas que as que o Estado impõe aos seus próprios Laboratórios, os Farmacêuticos Analistas Clínicos sempre seguiram a via da diferenciação pela Qualidade, através da modernização das suas infraestruturas e equipamentos, da aposta em Formação Contínua e na participação de programas de Avaliação da Qualidade, quer a nível de Controlo de Qualidade Interno, quer através da participação em programas de Avaliação Externa da Qualidade.

É uma realidade que a todos nos orgulha e que não nos envergonha, antes nos reconhece, a extrema competência quando em comparação com outros países europeus.

Numa altura em que a continuada indefinição na atitude do Estado para com os prestadores de cuidados de saúde atemoriza, transversalmente, toda a classe Farmacêutica, os Farmacêuticos Analistas Clínicos saberão responder, seja associando-se para se protegerem de investidas exteriores e manterem o controlo e independência dos seus Laboratórios, seja continuando a diferenciar-se pela Qualidade do serviço prestado aos seus utentes.

Estas eleições apresentam, deste modo, grande importância, uma vez que a nova classe dirigente da Ordem dos Farmacêuticos tem de ter um papel fundamental na discussão das linhas orientativas da política de saúde e do medicamento em Portugal. Estamos disponíveis para isso e sabemos que temos capacidade de adaptação às novas condicionantes deste sector. Esperamos participar e contribuir para uma saúde melhor em Portugal.

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