sábado, 16 de junho de 2007

KISS Principle

Se aplicado ao futuro da Ordem dos Farmacêuticos, o KISS Principle (Keep It Simple, Stupid) assumiria claramente a forma de "É a Política, estúpido!". De facto, quando se chega ao fim da discussão e se acabam de carpir os males, é à Política que tudo se resume.
Como o Prof. Batel Marques tantas vezes tem referido nas suas intervenções pelo país, com a aprovação da nova lei da propriedade das farmácias, a Ordem dos Farmacêuticos passará a ser a única estrutura nacional com peso político e importância para representar os Farmacêuticos.
De facto, a ANF (que é uma associação de proprietários de farmácias), cujo papel e elevado perfil político e público até agora têm sido extremamente positivos e importantes para a promoção social dos méritos científicos dos Farmacêuticos (não só os de Oficina), passará mais cedo ou mais tarde a ter como sócios pessoas que são proprietárias de farmácias e não são Farmacêuticos, sob pena de perder representatividade no universo das Farmácias nacionais. É uma evolução inevitável à luz da nova lei e é a que melhor defende os interesses da ANF e dos seus associados. Não nos devemos lamentar quando isso acontecer (e vai acontecer), mas sim procurar alternativas.
As associações existentes noutras áreas profissionais nunca tiveram a mesma capacidade da ANF de condicionar a agenda política e mediática. No caso das Análises Clínicas, a recente e inteligente fusão entre as associações de laboratórios propriedade de Farmacêuticos e Médicos fez com que na prática também nesta área se criasse uma necessidade acrescida de representatividade.
Ou seja, resta-nos a Ordem. Não é uma segunda escolha, mas antes um regresso às origens. Segundo o Prof. Sousa Dias, "a Sociedade Farmacêutica (antecessora da Ordem dos Farmacêuticos) nasceu das aspirações de justiça criadas pelas ideias liberais. Em Julho de 1834, cerca de centena e meia de farmacêuticos de Lisboa subscreveram uma petição pedindo a suspensão das inspecções do físico-mor, a liberalização dos preços dos medicamentos e a reforma da legislação sobre o exercício farmacêutico. (...) Directa ou indirectamente, a Sociedade influenciou as reformas e a produção legislativa de importância para a farmácia. A sua campanha pela reforma da ensino e do exercício farmacêutico produziu frutos. Em 1836 foram criados os cursos farmacêuticos e no ano seguinte foi criado o Conselho de Saúde Pública que substituiu o físico-mor e integrava dois farmacêuticos. A Sociedade teve um papel igualmente pioneiro no campo do mutualismo, com a instituição em 1838 do Montepio Farmacêutico."
Historicamente, é sobre a Ordem dos Farmacêuticos que recai o ónus da representação política e social dos Farmacêuticos. E é por isso que a Ordem deve valorizar a sua intervenção pública e política. A recente entrevista de Aranda da Silva ao DN é um excelente exemplo do que deve ser feito: após um período de dois anos em que a Ordem dos Farmacêuticos lutou contra tudo e contra todos pelo reconhecimento social da sua existência (por exemplo, não é admissível que o Ministro da Saúde privilegie o contacto com a ANF em detrimento da OF na definição de políticas de saúde), Aranda da Silva tornou-se uma personalidade conhecida e com peso político suficiente para que as suas opiniões mereçam destaque na imprensa. E é exactamente isso que tem feito falta aos Farmacêuticos. Façamos um exercício rápido: sem recorrer ao Google, pensem no nome dos três últimos Bastonários das Ordens dos Advogados e dos Médicos. Rogério Alves, José Miguel Júdice e Pires de Lima. Pedro Nunes, Germano de Sousa e Soares Ribeiro. Agora peçam a um Advogado ou a um Médico para fazerem o mesmo em relação à Ordem dos Farmacêuticos. Aposto que vão ter apenas duas respostas: João Cordeiro e, na melhor das hipóteses, Aranda da Silva.
É isto que vamos ter que mudar no futuro da OF. Temos que ter ideias organizadas, pessoas com capacidade de intervenção e prontas a intervir rápida e frequentemente. Temos que ter os assuntos estudados e temos que analisar e prever cenários e actuações dos outros stakeholders políticos e da área da Saúde.
Enfim, a OF tem que passar a funcionar como um partido político.

4 comentários:

Telmo disse...

Concordo plenamente com a separação DEFINITIVA DAS AGUAS. Deixemo-nos de rodeios, cada associação tem de defender os seus legitimos interesses, o que nao e legitimo e aquilo que tem acontecido ate aqui.

A ANF usa o nome dos Farmaceuticos quando lhe convem, quando na realiadade defende os proprietarios de farmacia (que nem farmaceuticos sao)

A OF sempre ficou a sombra da ANF, deixando-se confundir com esta ultima.

Isto deixa os colegas desiludidos com a Sua ORDEM. e a questionarem-se PAGAMOS AS QUOTAS PARA A ORDEM DOS FARMACEUTICOS PARA QUE? Para nos colocar um selo numa carteira profissional, que serve para que?

O reconhecimento que os últimos anos para os Farmaceuticos é um acto de coragem e inteligência.

PERGUNTEM AOS FARAMCEUTICOS O QUE QUEREM PARA A SUA PROFISSAO, ELES RESPONDERÃO CLARAMENTE.

Sinceramente acho que os programas eleitorais estao cheios de redomas e de frases idealistas que tentam agradar a todos, mas que verdadeiramente nao agradam a nenhum farmacêutico.

Tenham coragem de falar em temas como a ABERTURA DE FARMACIAS ; A CARREIRA HOSPITALAR E A ABERTURA DE VAGAS ; AS ANALISES CLINICAS E O DOMINIO DAS MULTINACIONAIS

Telmo santos socio P3236

Vladimiro Jorge Silva disse...

Caro Telmo: Os temas que refere foram e são os principais assuntos em discussão nas sessões de esclarecimento/debate que têm decorrido por todo o país. Se ler com atenção as propostas da nossa lista verá que estão lá respostas concretas para todas as questões que coloca.
Filomena Cabeça e os candidatos às secções regionais escolheram como estratégia de campanha o diálogo directo com os Farmacêuticos: nenhuma questão ficou por responder e em nenhum momento precisámos de recorrer a ideias alheias para explicar o que vamos fazer a seguir.
A entrevista de Aranda da Silva é o grito de Ipiranga que todos precisávamos de ouvir. Mas nenhum Bastonário deve ignorar o papel estratégico que a ANF teve e vai continuar a ter no futuro de todos os Farmacêuticos. Fazer isso seria estragar um trabalho de anos que, com avanços e recuos, fez de nós uma classe de tal forma respeitada que mereceu honras de destaque na tomada de posse do governo. É que se os Farmacêuticos fossem irrelevantes José Sócrates e Correia de Campos não perderiam tempo com eles. E isso, como todos sabemos, não aconteceu.

Cigarro disse...

Bonito...
Mais uma vez a polémica.
Para mim, KISS e a menemónica em MKT para "Keep It Short and Simple"... Não há "Stupids", apenas aqueles que vêm a Ordem como um meio para atingir fins e aqueles que defendem a Ordem como instrumento unificador da classe.
Por isso, e preciso ver quem foi contestatário nestes ultimos anos, quem surgiu com novas ideias.
Vamos acabar por perceber que vieram sempre do mesmo lado, ou melhor, da mesma Região, da mesma SR...

Ema Paulino disse...

É a primeira vez que escrevo num blog e na verdade estou a fazê-lo para salutar a forma como o Vladimiro tem tentado esclarecer os colegas, certamente menos conhecedores de realidades como as que preconizam para o nosso país. Ofereço-me para mostrar os dados sobre países liberalizadas tanto na propriedade como na instalação. Como o Vladimiro já transmitiu, na Noruega qualquer pessoa pode montar uma farmácia onde quiser quando quiser mas 98% das farmácias são de 3 distribuidores de medicamentos e o número de farmácias a abrir tem diminuido significativamente (e nenhuma propriedade de farmacêuticos!). Na Islândia, onde o mesmo se passou, a satisfação profissional do farmacêutico desceu consideravelmente (e estou a falar de farmacêuticos a trabalhar por conta de outrem e não dos proprietários). Convido portanto os colegas que se queiram esclarecer devidamente a contactar-me e disponibilizarei os estudos referidos.

Quanto ao papel da ANF no sector, sou obviamente suspeita para falar, mas eu viajo frequentemente e posso dizer que temos das melhores farmácias do MUNDO (alguém quer contestar?)! Duvido que tal tivesse sido possível sem a sua intervenção, principalmente em cenários de meses de atraso de pagamento por parte do estado. Eu diria que se os farmacêuticos são o 3º profissional mais confiável pela população Portuguesa, talvez tal não se deva ao acaso!