quinta-feira, 14 de junho de 2007

Entrevista de Batel Marques ao Diário As Beiras

BATEL MARQUES
“Profissão traz mais-valias”


Francisco Batel Marques e António Antunes lideram as listas candidatas à presidência da Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos (OF) e disputam, no próximo dia 21, os votos de cerca de 1500 farmacêuticos nos seis distritos da zona Centro. Batel Marques encabeça a Lista E, que apoia para bastonária Filomena Cabeça. António Antunes é o líder da lista F, que apoia a candidatura de Irene Silveira para bastonária.

DIÁRIO AS BEIRAS – Porque decidiu candidatar-se à presidência da Secção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos?
Batel Marques – Há princípios, há causas e há valores, e quando eles são postos em causa está na altura de exercermos civicamente a nossa actividade. Candidato-me por uma questão de valores e princípios intrínsecos. E esses valores são os da defesa intransigente da saúde pública e do direito da segurança dos cidadãos em relação aos medicamentos. Os princípios são centrar a profissão farmacêutica naquilo que já foi, que é ser uma profissão central no sistema de saúde, uma profissão que traz mais-valias mensuráveis à produção do bem saúde.

A actual fase de mudanças no sector coloca importantes desafios à classe farmacêutica?
Enormíssimos, talvez os maiores desde há décadas. O primeiro advém de o Governo ter decidido autorizar a comercialização de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias, num modelo que é único no mundo. Não concordo com a venda de medicamentos fora das farmácias, mas este modelo, de criar lojas para vender medicamentos, traz mais problemas que soluções. Quer na perspectiva política, quer na perspectiva económica, quer na perspectiva dos cidadãos, porque de facto a acessibilidade não aumentou, as novas lojas instalaram-se junto das farmácias que já existiam. Por outro lado, se se exige que uma farmácia tenha um farmacêutico responsável, porque é que nestas lojas este filtro de segurança é facilitado, uma vez que elas podem funcionar sem a presença efectiva de um farmacêutico.

Outro desafio é a liberalização da propriedade das farmácias?
Estamos perante um cenário de liberalização da propriedade da farmácia, os não farmacêuticos irão ter a possibilidade de ter farmácias. Todas as experiências liberalizadoras levaram à concentração vertical ou horizontal, quem investe neste sector não sendo farmacêutico é um investidor que quer tirar mais-valias. Esta decisão entrega à voracidade, ao mercantilismo, uma actividade cujo bem, que é o medicamento, é um bem de saúde. A Ordem tem aqui um papel importantíssimo, de exigir que o profissional que é responsável por este estabelecimento tem que ter uma posição no sistema de saúde, e sob o ponto de vista legal, técnico-científico, ético e dentológico, muito bem caracterizada, para garantir ao cidadão que a independência técnica no acesso ao medicamento está separada do domínio económico.

Esses são desafios que se colocam ao nível da farmácia de oficina. E noutras áreas?
O farmacêutico hospitalar é por excelência um prestador de serviços muito diferenciado, no âmbito da selecção e utilização de medicamentos no hospital. Este ambiente que permite o desenvolvimento de actividades da farmácia clínica é algo que é nossa preocupação, no esteio de uma linha em que o farmacêutico é reconhecidamente o profissional de saúde que na sociedade tem a responsabilidade sobre a segurança dos medicamentos e a sua utilização mais favorável na relação risco/benefício e custo/efectividade. É uma área que tem que ser reforçada, o poder político deve perceber que ter farmacêuticos licenciados em hospitais não é um gasto, é um investimento, que noutros países demonstrou ser custo-efectivo. Os farmacêuticos são também tradicionalmente analistas clínicos e queremos promover a sua excelência profissional. Estes profissionais têm sido um fortíssimo agente de saúde pública, pela qualidade dos serviços que prestam, e têm sido muito penalizados, pelas convenções, no retorno financeiro do enorme investimento que fazem no sector das análises clínicas, onde houve liberalização e assistimos à concentração de capital financeiro.

Os farmacêuticos têm um papel importante em várias áreas?
Temos ainda farmacêuticos que trabalham em análises da área da saúde pública, como as biológicas ou bromatológicas, e podem estar ligados a centros de saúde ou autarquias, onde desempenham um papel bastante importante. Pensamos que a região Centro deve ser um pólo de excelência na saúde em Portugal, e a região como cluster da saúde tem também exemplos de empreendedorismo na indústria farmacêutica de enorme sucesso. Destaco por exemplo a Bluepharma, a Labesfal, a Labialfarma e o Laboratório Basi. Para a nossa população temos uma alta densidade de indústria farmacêutica.

Se for eleito, quais serão as suas prioridades de acção?
Queremos desenvolver o contacto permanente com a sociedade civil. A prioridade é entabular contactos regulares para explicar à sociedade civil o que são os farmacêuticos, as farmácias, a actividade farmacêutica e as dificuldades que têm. E pretendemos estabelecer contactos regulares de colaboração mútua com os partidos políticos com assento parlamentar, para que não tomem decisões menos fundamentadas. Na actual direcção da Ordem foi feito um estudo pelo ISCTE que demonstra, entre outras coisas, que há mais-valias mensuráveis que passam pelos farmacêuticos, designadamente poupar recursos em consultas médicas. Há alguém que não tenha ido já a uma farmácia para resolver um problema de saúde? O nosso sistema de saúde não integra este valor, criam-se linhas telefónicas para avaliar uma dor à distância e negligencia-se um técnico com formação superior. Não pode ser, é nesta dimensão que queremos pôr a questão: somos uma mais-valia, é reconhecido pela população, e o sistema de saúde tem todo o interesse em incorporar esta capacidade instalada que está sub-aproveitada.

O processo de revalidação da carteira profissional está a correr bem? O que preconiza?
O princípio para mim é inquestionável, é uma mais-valia que os farmacêuticos têm. Há aspectos do processo que correram bem, há outros que não correram bem, todos os processos têm zonas de luz e de sombra e este tem muitas zonas de sombra. Penso, e vamos promovê-lo, que temos que fazer logo após o acto eleitoral um debate rápido mas profundo sobre este modelo de renovação, em dois aspectos. Por um lado, saber se a Ordem deve ter um papel regulador ou um papel prestador de formação. Os farmacêuticos devem perceber que se quem regula forma há um conflito de interesses. Por outro, clarificar se a Ordem credita actividades ou certifica entidades formadoras. E se se exigisse a renovação da carteira têm que se dar condições para que todos a ela tenham acesso, tem que ser um processo inclusivo.

Porque apoia a candidatura de Filomena Cabeça a bastonária da OF?
Porque é a candidatura que no plano dos princípios se identifica connosco e é a candidatura que nos dá garantia de ter a nível nacional uma equipa capaz de estar à altura dos desafios que estão aí.

Porque é que os farmacêuticos da região devem votar na Lista E?
Por razões óbvias.

1 comentário:

Unknown disse...

Batel Marques resume magistralmente a motivação para votar na Lista E... e nas restantes listas de uma Ordem para intervir: "por razões óbvias"!
para bom entendedor...